terça-feira, 30 de agosto de 2016


Malditas Mocinhas


Minha mãe é de uma família de mulheres, cinco “marias”. Maria Lucia, Ruth Maria, Etelvina Maria (homenagem a uma tia muito generosa, justifica o nome e com muito esforço, a falta de generosidade da minha avó em batizá-la com esse nome), Maria Beatriz e Maria Heloisa ou simplesmente Lulucha, Ruthinha, Teleca, Bibi e Helô. Virgem Maria, quanta mulher! Podia-se usar qualquer perfume, mas a casa sempre tinha cheiro de puro estrogênio nº 5. Imaginem, minha avó ficou viúva bem cedo e essa legião feminina cresceu junta comandada por uma única e grande mulher. E imagine por quantos apuros a minha avó passou para enfrentar a primeira menstruação das filhas que começou lá atrás, em 1945. “Mãe, tem algo estranho e quente acontecendo aqui dentro de mim”, “Mãe, acho que me cortei dormindo ou estou morrendo, a cama está toda suja de sangue...”, “Mãaaaaaaaaaaaaae!!!!!!”, “Mãe, como é que vocês falam mesmo? Ah, virei Mocinha!”, “Xi mãe, já posso engravidar...”. A cada ano, uma surpresa. Uma com 10, outra com 11, a caçula com 12 e as duas mais velhas com 15! E eu cresci escutando todas essas histórias e rindo de todas elas, achando que comigo seria diferente. Que para mim oras, uma menina avançada e completamente íntima de tantas primeiras menstruações, seria muito natural e nada inusitado a, “quê”, “ah?”, - opa-o-que-que-é-isso-des-cen-do-pe-lo-meio-das-MI-NHAS-PER-NAAAAAS? Mas como assim? Eu acabei de dar o meu primeiro beijo de língua! E nem foi tão bom assim. Ei pseu-corpo de mocinha, pode ir parando que eu ainda nem tenho peitos! Como vou deixar alguém passar a mão em algo que mal existe? Apesar de que, acho bem pior liberar o peito do que a bunda, afinal, bunda não tem sexo, todo mundo tem. POR CIMA DA ROUPA, QUE FIQUE BEM CLARO! Eu ainda me sinto uma criança. Só tenho um sutiã. Não sei como usa isso.Sempre tive medo daquilo grudar em mim. Ai que dor! Quem nem soco no bico do peito e chute no saco. “Mãe, mãe... vem aqui”. Porque, porque no dia da primeira menstruação sempre tem alguma coisa acontecendo na casa da gente, sempre tem visita, sempre é natal, sempre é aniversário de alguém? ... resumindo: nunca dá pra chamar a mãe aos berros. Eu pelo menos nunca soube disso nessa geração. “Mãe, por favor, vem aqui.”, “MÃE, MÃ-Í-Ê”. Toc, toc, toc. “Senha, por favor”. O que parecia o fim do mundo num dia onde todos da minha escola estavam se preparando para bailinho no salão da casa de uns amigos para ela era a glória! Era como se a bonequinha dela passasse de Fofolete ao estágio Susie. “Virou mocinha!”, Gente! A Angela virou mocinha! E agora, como eu ia sair dali? Por favor, me espere aí fora até a menopausa, quando já não tiver mais nenhum convidado nessa maldita sala esperando para me dar sei lá o quê. Parabéns? Por favor, não sejam ridículos, me desejem pêsames. Como eu vou vestir a minha calça de couro preto cintura alta com essa... com esse, com isso? Com essa fralda geriátrica no meio das pernas?! Enfim, ergui como uma heroína meu nariz adunco, que ficava entre uma testa grande e uma boca muito pequena acomodados em um rosto que na época eu achava pouco harmônico e cheio de espinhas. Abri a porta e saí, saí muito diferente do que entrei naquele banheiro. Tinha enfim encontrado a filha adolescente da loira do banheiro, a assustadora e inesperada “mocinha do banheiro”. Passei pelo meio dos convidados como uma Afrodite. E quase na porta meu irmão num ímpeto de ciúmes indagou: “hey, onde você pensa que vai menina”? Por favor gente, do que ele me chamou mesmo? Menina, é isso? Céus, alguém avisa para este garotinho inocente que agora ele está falando com uma legítima mocinha?

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Seguidores